terça-feira, junho 29, 2010

Contos para Acordar na Revista da APEI



No início deste ano nasceu uma nova parceria com a APEI que se materializa num artigo tipo crónica na Revista editada pela própria APEI C:E:I - Cadernos de Educação para a Infância, com o nome de "Contos para Acordar".

Aqui partilhamos o primeiro artigo que saiu na publicação de Janeiro/Abril:


Usamos comummente a expressão “contos para adormecer”. Adormecer os bebés e as crianças, claro está, e até a nós próprios quando puxamos do livro que está arrumadinho em cima da mesa-de-cabeceira com o principal objectivo de nos… adormecer.

Um dia, em conversa com uma amiga, ouvi a expressão ao contrário - “CONTOS PARA ACORDAR”, e fez-me todo o sentido, de tal maneira que a adoptei (usando um simpático eufemismo para esta terrível tendência que caracteriza os contadores de histórias…).

Não desvalorizando a ajuda preciosa de uma história contada à cabeceira com o legítimo objectivo de adormecer os pequenos, que todo o dia correram e gritaram pela casa, para mim, a verdadeira função dos contos é mesmo ACORDAR. E acordar para quê? A quem? Porquê?
Acordar para outras dimensões diferentes da nossa realidade quotidiana, aumentando a nossa capacidade de projectar e entender a perspectiva do outro.
Despertar para novas narrativas que nos distanciam da nossa, mantendo a segurança necessária de não nos sentirmos ameaçados (afinal isto é só uma história) e nos oferecem ferramentas e sabedorias que de outra forma desconheceríamos por completo.
Acordar a imaginação para que possamos sonhar também, e cada vez mais, de olhos abertos.
Despertar todos os que não acreditam em duendes, fadas ou animais falantes, para que não percam a magia de ver em cada arco-íris uma passagem para o lado de lá da fantasia.
Acordar todos os acham que já não têm idade para ouvir histórias, para que não se tornem sós e azedos e reaprendam a espantar-se com a descrição de um pôr-do-sol.
Despertar as ideias para que, de tão arrumadas estarem, não adormeçam nem deixem de florir, desperdiçando o sol e a primavera interiores.

Acordar porque precisamos de parar de quando em vez para não chocar com uma imagem no espelho (seja ela dum narciso ou duma bruxa) que nos mostra tão longe de nós próprios.
Despertar porque os contos nos fazem olhar para dentro enquanto ouvimos o que vem de fora e isso faz-nos crescer.

Os contos que acordam, nem sempre vêm nos livros, podem ser uma imagem, uma sensação, uma ideia que, quando narradas se tornam verdadeiras histórias de vida. Os contos que despertam são os que nos aquecem a alma, mas também os que nos gelam o coração, os que fazem nascer um sorriso e os que nos obrigam a lutar com a lágrima que, à força, quer cair. Os contos que nos acordam são principalmente, aqueles em que nos encontramos, em que nos revemos, nas memórias ou em sonhos idos, pela proximidade ou pela total impossibilidade e concretização, mas que nos tocam e nos marcam o coração.

Nestas páginas tentarei contar-me, dizendo-vos dos contos que me acordam e, quem sabe, despertar alguém comigo!

Liliana Lima
Contadora de Histórias do CONTOS DA LUA NOVA
Coordenadora d’O Quarto da LUA

1 comentário:

zmsantos disse...

Olá Liliana,
Mais uma vez estivemos n'O Quarto da Lua. Bem hajam pelo carinho!